Será mesmo que Deus existe? Perguntou o pai de Cristiano
Araújo por ocasião do sepultamento do cantor sertanejo. Diante desta indagação
amargurada, pus-me a refletir acerca do silêncio de Deus, supostamente
indiferente ao sofrimento humano. E foi nessas reflexões que pude ouvir os
estrondos dos corações egoístas bradando e pondo em dúvida a existência
d’Aquele que é amor: — porque Deus permitiu isso?; — Deus não se preocupa
comigo; — será mesmo que Deus existe? Foi aí que me veio o seguinte
questionamento: por que indagar acerca de Deus somente agora que se vê o filho
num caixão? Por que não o fazer no tempo da fama, do dinheiro, do sucesso, das
glórias? Ora, certamente muitos morreram antes dele. Não poucos sofreram
desgraça maior. Milhares estão morrendo à mingua na fome e na miséria. Dos
hospitais se ouve gemidos dos que já não têm esperança. Nas ruas se vê crianças
com frio, nuas, dependendo da benevolência daqueles que comumente as olha com
discriminação. Homens já crescidos, como ratos, vasculham lixos em busca de
comida. Mulheres idosas, catadoras de papelão, empurram carrinhos cheio daquilo
que não nos servem para nada, a fim de ganhar algum dinheiro no final do dia. E
diante de tudo isso nunca questionamos a existência de Deus, até que a dor bate
à nossa porta. Puro egoísmo. Se estou bem, Deus existe, mesmo que o mundo
inteiro se desfaça em dor e miséria. Se, porém, a desgraça me alcança, Deus
então deixa de existir. Se tenho saúde, bens, dinheiro, fama, sucesso, digo que
Deus é bom, ainda que os que estão a minha volta estejam em profunda miséria.
Se, todavia, me faltam essas coisas, ponho em dúvida a existência e o amor de
Deus. E em razão desse egoísmo, deixo de perceber que o silêncio de Deus e Sua
suposta inexistência não está n’Ele, mas em mim. Porque quando deixo de chorar
com os que perdem seus entes queridos, quando deixo de compadecer-me diante da
desgraça alheia, quando deixo de dividir o pão com o faminto, quando deixo de
visitar os doentes nos hospitais e lhes levar esperança, quando deixo de vestir
o nu, de socorrer os desesperados, de estender a mão aos cansados, nego a
existência de Deus, EM MIM, por viver como se não houvesse Deus. Afinal, o
ETERNO é o Deus imanente, que, estando em todos, age por meio daqueles que são
sensíveis à Sua presença e lhe reconhecem a paternidade. Pois somente os que
podem ver a Deus como pai, podem reconhecer os homens como irmãos e exercer a
fraternidade. Por outro lado, tendo ciência de que tudo provêm de Deus, e de
que n’Ele vivemos, existimos e nos movemos, não podemos pensar que somos
maiores do que Ele. Se Ele é Deus, cabe às Suas criaturas adorá-lO, agradecidas
pela vida concedida e pelo tempo de sua existência. A morte não nos causaria
tamanha dor se reconhecêssemos que somos como erva, e que só o Senhor é eterno.
Assim, falaríamos como Jó: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei: o SENHOR o
deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR (Jó 1:21).
ALEXANDRE
RODRIGUES Ministério Apostólico de Volta à Palavra
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