terça-feira, 9 de junho de 2015

ESTUDO HERMENÉUTICO DE HEBREUS 6:4,6

Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo,
E provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro,
E recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério.Hebreus 6:4-6

Portanto, para a plena compreensão do texto, é preciso saber primeiramente a quem o pronome “AQUELES” se refere. Conforme o texto, “AQUELES” são os que tiveram cinco experiências descritas nos versículos 4 e 5, a saber: foram iluminados, provaram o dom celestial, participaram do Espírito Santo, provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro. Diante disso, logo alguém dirá: esses são pessoas que apostataram da fé cristã. Inclusive, muitos baseados neste texto, acreditam ser possível que alguém que verdadeiramente crê no evangelho perca a salvação. Entretanto, nem mesmo os arminianos podem crer dessa forma, uma vez que se assim fosse, estaria o texto a afirmar que uma vez caído, seria IMPOSSÍVEL renovar o pecador ao arrependimento. Ou seja, crer dessa maneira seria pregar a fatalidade, afirmando ser impossível o arrependimento depois da queda. Se assim fosse, por que Jesus convida a Sua igreja ao arrependimento, exortando-a: “lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras”? (Ap 2:5). Ora, “AQUELES” a quem se refere o apóstolo, são certamente uma classe de pessoas que cometeram o pecado imperdoável, isto é, o pecado contra o Espírito Santo (Mt 12:32). Para este pecado NÃO HÁ PERDÃO. Daí a impossibilidade de serem conduzidos ao arrependimento.
Mas por que então a afirmação de que eles provaram e participaram do Espírito Santo, da palavra, do dom celestial e dos poderes do mundo vindouro? Bem, exatamente aqui encontramos a chave que nos abre o texto.
Os “AQUELES” referidos no texto são os que estiveram sob uma chuva de graça nos tempos da encarnação e peregrinação do Filho de Deus. São todos aqueles que viveram nos tempos de Cristo e que, mesmo diante de tudo o que viram, ouviram e experimentaram, ainda assim negaram o santo de Deus. Como diz em outro lugar: “De quanto mais severo juízo julgais vós será considerado AQUELE que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o ESPÍRITO DA GRAÇA” (Hb 10:29).
Quando o Verbo entrou no mundo, manifestou-Se como Luz, que, vinda ao mundo, ILUMINA TODO HOMEM (Jo 1:9). Por isso, foram eles iluminados. “O povo que jazia em trevas VIU GRANDE LUZ, e aos que viviam na região e sombra da morte resplandeceu-lhes a luz” (Mt 4:16). Apesar disso, o mundo não o conheceu (Jo 1:10). E não somente isso, mas também provaram (testaram o sabor – lit.) o dom celestial e participaram (tiveram a dignidade – lit.) do Espírito Santo, na medida em que experimentaram as bênçãos da presença de Cristo no meio deles. Certa ocasião, depois de ter expulsado o demônio de um homem, disse Jesus: “Se eu expulso demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus SOBRE VÓS (Mt 12:28). E, apesar disso, não creram n’Ele. Além disso, provaram (testaram o sabor – lit.) a boa palavra de Deus, ao receberem a palavra do reino (Mt 13:19), mas em três terços dos corações, a semente não produziu fruto. E o que dizer do fato de terem eles provado os poderes do mundo vindouro? Ora, esses poderes são o poder de restauração do reino milenar. Naquele tempo, “se abrirão os olhos dos cegos, e se desimpedirão os ouvidos dos surdos; os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará...” (Is 35:5-6). Os judeus do tempo de Cristo provaram antecipadamente esses poderes, quando Jesus, no meio deles, realizou todos esses milagres e prodígios de restauração. “E, embora tivesse feito tantos sinais na sua presença, não creram nele” (Jo 12:37).
Sim, tendo “AQUELES” estado debaixo de uma chuva de graça, ainda assim produziram espinhos e abrolhos (Hb 6:8). Produziram em seus corações maldição (Gn 3:17-18), quando fizeram maldito (Gl 3:10) o Deus bendito (Rm 9:5), crucificando-O entre dois malfeitores. E, depois de terem-no matado, voltaram ao templo com o fim de continuarem seus sacrifícios pelos pecados. O que não sabiam, no entanto, é que tendo Jesus realizado, pelo Seu sangue, a remissão de pecados, “já não resta oferta pelo pecado” (Hb 10:18). Os sacrifícios oferecidos a Deus de acordo com a economia veterotestamentária, agora já não mais possuía nenhum valor ou eficácia. De modo que, ao continuar a oferecê-los, depois do sacrifício perfeito de Cristo, eles estão “de novo, crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia” (Hb 6:6). A cada sacrifício realizado no templo, reafirmava-se a rejeição ao verdadeiro sacrifício. Cada vez que um judeu sacrificava no altar de holocausto, crucificava para si mesmo, outra vez, o Filho de Deus. Por suas próprias atitudes, demonstravam que haviam pecado contra o Espírito Santo, cuja obra consiste em conduzir o pecador à fé no Cristo de Deus. Ao negar o Filho, atraem para si a maldição (Gl 3:7-14).
A terra (coração), porém, que absorveu a chuva da graça de Deus, produzindo fruto de arrependimento, essa recebeu a bênção de Deus (Hb 6:7). Estes são os “vós outros”, acerca de quem afirmou o apóstolo: “quanto a vós outros, todavia, ó amados, estamos persuadidos das coisas que são melhores e pertencentes à salvação...” (Hb 6:9). “Aqueles”, porém, são impossíveis de serem conduzidos ao arrependimento (Hb 6:4).

Em contrapartida, os cristão-judeus não deveriam nutrir pelo judaísmo nenhuma admiração. Ao olharem para o templo com todas as suas festas e cultos, assim como para os seus sacrifícios e ofertas, precisavam vê-los como coisas envelhecidas e obsoletas, como verdadeiros rudimentos (Hb 8:13). Deveriam olhar para o Crucificado e concebê-lo como a perfeição e plenitude da verdade revelada. Era necessário que chegassem ao ponto de total desprezo àquilo que já não mais significava no plano de Deus. Como disse o apóstolo Paulo, em outro lugar: “Mas o que, para mim, era lucro...” – ou seja, a circuncisão, a linhagem israelita, a pureza de “raça”, o farisaísmo (enquanto seita mais severa do judaísmo), o zelo e a justiça da lei –, “... isto considerei perda... e o considero como refugo (excremento de animais), para ganhar a Cristo” (Fp 3:5-8). Essa mesma exortação continua a ecoar nos dias de hoje e a exortar os verdadeiros filhos de Deus a abandonarem o antigo testamento enquanto norma de doutrina e prática, e a avançarem para a perfeição e plenitude de Cristo, no novo testamento.

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