Porque há uma fascinação tão grande entre os "evangélicos" em voltar as práticas judaizantes?
NÃO PENSEIS QUE VIM REVOGAR A LEI E OS PROFETAS.
Entretanto alguns não
podem conceber esta verdade, porque afirmam suas bases em um texto no novo
testamento, o qual, por causa de leitura superficial e descontextualizada,
parece contradizer o que tão claramente nos revela o restante das Escrituras. O
referido texto é o que se encontra em Mateus 5:17,18, que diz: “Não penseis que
vim revogar a Lei ou os Profetas; mão vim para revogar, vim para cumprir.
Porque na verdade nos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til
jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra”.
Ora, o fazem desse texto o seu “porto-seguro” com o fim de
negar a transitoriedade do antigo testamento, o fazem movidos por dois grandes
erros de natureza semântica: 1º a falso compreensão da expressão “ a Lei ou os
Profetas”; 2º o sentido equivocado do verbo cumprir (... até que tudo se
cumpra).
A LEI OU PROFETAS: O QUE
SIGNIFICAM?
Com respeito ao primeiro problema
imposto pela dificuldade de interpretação do próprio texto, comentou,
R.N.Champlin, em seu comentário bíblico O Novo Testamento Interpretado, dizendo
que a Lei ou os Profetas referem-se “evidentemente [a] uma expressão geral que
indica o V.T., o conjunto completo das Escrituras Judaicas”
E como quem busca ratificar o que acabara de
declarar, reafirma, dizendo: “Não há
razão para interpretarmos outra coisa que não as Escrituras Judaicas de modo
geral, ou seja, o V.T”.
Esta não é uma interpretação particular
de Champlin sobre o que poderia significar o termo a Lei ou os Profetas. Pois,
não somente muitos outros exegetas o definiram do mesmo modo, mas a própria
Escritura - a maior, a mais segura e
infalível fonte de revelação e conhecimento – assim também o define. Este é o
testemunho bíblico pronunciado pelo próprio Jesus depois da sua ressurreição,
conforme o encontramos em Lucas 24:44.
Os Judeus, ao se referirem à totalidade
das Escrituras hebraicas – o antigo testamento, conforme o conhecemos hoje –
chamavam-no de a Lei, os Profetas e os salmos (Lc.24:44), A lei nesse sentido
não se refere a alguma lei específica (moral, cerimonial ou civil), mas ao
conjunto dos cincos livros de Moisés: Genesis, êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio, também chamado Torá ou simplesmente Moisés (Lc 24:27;2Co3:15). Os
salmos referem-se aos seis livros de caráter poético: Jó, Salmos, Provérbios,
Eclesiastes, Cântico dos Cânticos e Lamentações. E os Profetas, aos demais
livros.
A afirmação de que o antigo testamento
utiliza o termo A Lei para referir-se genericamente aos livros de Moisés e não
somente aos dez mandamentos ou a quaisquer outros específicos é facilmente
encontrada nas Escrituras. Em Mateus 12:5 diz: “Ou não leste na Lei que, aos
sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado e ficam sem culpa?” Ora, pois.
Onde na lei encontramos tal informações? È certo que não. A declaração de que
os sacerdotes, no templo, violam o sábado e ficam sem culpa encontra-se,
segundo Cristo, na Lei, a saber, no quarto livro de Moisés, em números
28:9-10).
Outro exemplo é o referido em João
8:4-5, momento em que os escribas e fariseus, ao levarem uma mulher adúltera
pega no flagrante ato de adultério, disseram a Jesus: “... Mestre, esta mulher
foi apanhada em flagrante ato de adultério, e na Lei nos mandou Moisés que tais
mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes?” Pergunto, pois: onde na lei
há a ordem para se apedrejarem os adúlteros? Em qual dos dez mandamentos
encontramos tal ordem? Em nenhum deles. A Lei, neste contexto, na concepção dos
escribas e fariseus é uma referência geral aos livros de Moisés, haja vista
fazerem referencia ao textos de Levitico 20:10 e a Deuteronômio 22:22-24.
O apóstolo Paulo também compartilha de
tal entendimento. Em sua carta aos Gálatas, ao exortar os crentes a viverem a
vida cristã unicamente pela a fé em cristo, indagou-os, dizendo: “Dizei-me vós, os que quereis andar sob a
lei: acaso não ouvis a Lei? Pois está
escrito que Abraão teve dois filhos, um da mulher escrava e outro da livre” (4:21-22). Ora, vede. Os
crentes da Galácia estavam sendo persuadidos por falsos irmãos a voltarem-se
aos costumes e práticas da antiga aliança (Gl.2:4). Com o fim de ensiná-los o
caminho da verdade, Paulo inicia sua persuasão, procurando colocá-los em
contradição com aquilo que diziam crer: acaso não ouvis a Lei, vós os que
quereis esta sob a Lei?
A resposta dos Gálatas que se faz ecoar
nas entrelinhas do texto Paulino é óbvia: o que nos diz a Lei para que possamos
ouvi-la? E a resposta Paulina explode imediatamente: “está escrito que Abraão teve dois filhos, um da mulher escrava e outro
da livre”.
Mas Paulo, diria alguém um tanto desinformado, a referência que você
apresenta como fundamentação de sua tese, não se encontra na lei? E ainda mais: como pode ser isso, se nem ao
menos havia alei no tempo do patriarca, vindo a ser promulgada quatrocentos e
trinta anos depois? (Gl.3:17)
Veja. A historia de Abraão, Sara e
Hagar encontram-se no livro de Genesis (17). Quando Paulo referiu-se à Lei, não
pensava nos dez mandamentos nem em quaisquer outros. Antes, à semelhança de
cristo e dos Judeus de seu tempo, o apóstolo entendia que o termo A Lei
refere-se, de maneira geral, aos cinco livros de Moisés.
Portanto a Bíblia Sagrada faz menção à
Lei e aos Profetas, ou a Lei, Profetas e Salmos – expressão idiomática
conhecida dos Judeus e retificada pelas às Escrituras – refere-se ao antigo
testamento, isto é, aos trinta e nove livros primeiros da Bíblia, conforme a
conhecemos hoje. Portanto, sanado está o primeiro problema de ordem semântica
referente a Mateus 5:17. Vamos agora esclarecer a expressão “ [...
vim para cumprir”]
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