sexta-feira, 22 de agosto de 2014


Porque há uma fascinação tão grande entre os "evangélicos" em voltar as práticas judaizantes?

NÃO PENSEIS QUE VIM REVOGAR A LEI E OS PROFETAS.       
        
Entretanto alguns não podem conceber esta verdade, porque afirmam suas bases em um texto no novo testamento, o qual, por causa de leitura superficial e descontextualizada, parece contradizer o que tão claramente nos revela o restante das Escrituras. O referido texto é o que se encontra em Mateus 5:17,18, que diz: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; mão vim para revogar, vim para cumprir. Porque na verdade nos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra”.
         Ora, o fazem desse texto o seu “porto-seguro” com o fim de negar a transitoriedade do antigo testamento, o fazem movidos por dois grandes erros de natureza semântica: 1º a falso compreensão da expressão “ a Lei ou os Profetas”; 2º o sentido equivocado do verbo cumprir (... até que tudo se cumpra).                                                                      
A LEI OU PROFETAS: O QUE SIGNIFICAM?
         Com respeito ao primeiro problema imposto pela dificuldade de interpretação do próprio texto, comentou, R.N.Champlin, em seu comentário bíblico O Novo Testamento Interpretado, dizendo que a Lei ou os Profetas referem-se “evidentemente [a] uma expressão geral que indica o V.T., o conjunto completo das Escrituras Judaicas”     
E como quem busca ratificar o que acabara de declarar,  reafirma, dizendo: “Não há razão para interpretarmos outra coisa que não as Escrituras Judaicas de modo geral, ou seja, o V.T”.
         Esta não é uma interpretação particular de Champlin sobre o que poderia significar o termo a Lei ou os Profetas. Pois, não somente muitos outros exegetas o definiram do mesmo modo, mas a própria Escritura -  a maior, a mais segura e infalível fonte de revelação e conhecimento – assim também o define. Este é o testemunho bíblico pronunciado pelo próprio Jesus depois da sua ressurreição, conforme o encontramos em Lucas 24:44.
         Os Judeus, ao se referirem à totalidade das Escrituras hebraicas – o antigo testamento, conforme o conhecemos hoje – chamavam-no de a Lei, os Profetas e os salmos (Lc.24:44), A lei nesse sentido não se refere a alguma lei específica (moral, cerimonial ou civil), mas ao conjunto dos cincos livros de Moisés: Genesis, êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, também chamado Torá ou simplesmente Moisés (Lc 24:27;2Co3:15). Os salmos referem-se aos seis livros de caráter poético: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos e Lamentações. E os Profetas, aos demais livros.
         A afirmação de que o antigo testamento utiliza o termo A Lei para referir-se genericamente aos livros de Moisés e não somente aos dez mandamentos ou a quaisquer outros específicos é facilmente encontrada nas Escrituras. Em Mateus 12:5 diz: “Ou não leste na Lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado e ficam sem culpa?” Ora, pois. Onde na lei encontramos tal informações? È certo que não. A declaração de que os sacerdotes, no templo, violam o sábado e ficam sem culpa encontra-se, segundo Cristo, na Lei, a saber, no quarto livro de Moisés, em números 28:9-10).
         Outro exemplo é o referido em João 8:4-5, momento em que os escribas e fariseus, ao levarem uma mulher adúltera pega no flagrante ato de adultério, disseram a Jesus: “... Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante ato de adultério, e na Lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes?” Pergunto, pois: onde na lei há a ordem para se apedrejarem os adúlteros? Em qual dos dez mandamentos encontramos tal ordem? Em nenhum deles. A Lei, neste contexto, na concepção dos escribas e fariseus é uma referência geral aos livros de Moisés, haja vista fazerem referencia ao textos de Levitico 20:10 e a Deuteronômio 22:22-24.
         O apóstolo Paulo também compartilha de tal entendimento. Em sua carta aos Gálatas, ao exortar os crentes a viverem a vida cristã unicamente pela a fé em cristo, indagou-os, dizendo: “Dizei-me vós, os que quereis andar sob a lei: acaso não ouvis a Lei?  Pois está escrito que Abraão teve dois filhos, um da mulher escrava e  outro da livre” (4:21-22). Ora, vede. Os crentes da Galácia estavam sendo persuadidos por falsos irmãos a voltarem-se aos costumes e práticas da antiga aliança (Gl.2:4). Com o fim de ensiná-los o caminho da verdade, Paulo inicia sua persuasão, procurando colocá-los em contradição com aquilo que diziam crer: acaso não ouvis a Lei, vós os que quereis esta sob a Lei?
         A resposta dos Gálatas que se faz ecoar nas entrelinhas do texto Paulino é óbvia: o que nos diz a Lei para que possamos ouvi-la? E a resposta Paulina explode imediatamente: “está escrito que Abraão teve dois filhos, um da mulher escrava e outro da livre”.
         Mas Paulo, diria alguém um tanto desinformado, a referência que você apresenta como fundamentação de sua tese, não se encontra na lei?  E ainda mais: como pode ser isso, se nem ao menos havia alei no tempo do patriarca, vindo a ser promulgada quatrocentos e trinta anos depois? (Gl.3:17)
         Veja. A historia de Abraão, Sara e Hagar encontram-se no livro de Genesis (17). Quando Paulo referiu-se à Lei, não pensava nos dez mandamentos nem em quaisquer outros. Antes, à semelhança de cristo e dos Judeus de seu tempo, o apóstolo entendia que o termo A Lei refere-se, de maneira geral, aos cinco livros de Moisés.

         Portanto a Bíblia Sagrada faz menção à Lei e aos Profetas, ou a Lei, Profetas e Salmos – expressão idiomática conhecida dos Judeus e retificada pelas às Escrituras – refere-se ao antigo testamento, isto é, aos trinta e nove livros primeiros da Bíblia, conforme a conhecemos hoje. Portanto, sanado está o primeiro problema de ordem semântica referente a Mateus 5:17. Vamos agora esclarecer a expressão “  [... vim para cumprir”]    

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